Este trabalho objetiva apresentar resultados preliminares da pesquisa “Políticas e práticas de comunicação no SUS: mapeamento, diagnóstico e metodologia de avaliação”. Após uma introdução contextual em relação ao campo da saúde, descreve o universo institucional e territorial da pesquisa, os procedimentos metodológicos do primeiro ano de atividade e dados numéricos. Em seguida, analisa dois cenários mapeados: o primeiro confirma e consolida as concepções e práticas tradicionais e dominantes no âmbito do Sistema Único de Saúde; o segundo aponta outras modalidades de fazer comunicação e saúde e identifica tendências.
A Comunicação está intimamente vinculada ao campo da Saúde, desde os princípios do século XX, tomando-se como marco a criação, em 1923, do Serviço de Propaganda e Educação Sanitária, no então Departamento Nacional de Saúde Pública. Na época, as descobertas da ciência apontavam para a existência de agentes patológicos específicos para cada doença e processos de transmissão, o que deslocava a atenção das condições sócio-ambientais para o indivíduo e colocavam no centro das prioridades as medidas de higiene. Em decorrência, apontava para a necessidade da mudança de comportamento e de hábitos, vistos como causa das doenças, portanto, indesejáveis à saúde. Como escrevemos em outro lugar,
A partir de então, o binômio ignorância/maus hábitos – vala comum à qual se destina qualquer resistência ao saber cientificamente orientado – passou a receber o status de uma doença, a „doença da ignorância‟ e mais modernamente „da desinformação‟, como que transversal a todas as outras. Não é de se surpreender, então, que educação e comunicação tenham passado a ser associadas fortemente à implantação das políticas públicas em saúde. (Araújo e Cardoso, 2007)
Ao longo do tempo, atravessando diferentes contextos históricos, políticos, epidemiológicos, teóricos e metodológicos, os campos da comunicação e da saúde aproximaram seus vínculos e agregaram novas faces, mantendo-se, porém, algumas características: Forte acento no indivíduo, como responsável por sua saúde; os determinantes sociais das doenças, assim como os econômicos, os políticos e os ambientais são ignorados. Privilegiamento das falas autorizadas, particularmente as institucionais que veiculam um saber médico-científico. Presença hegemônica dos discursos higienista e preventivista. Comunicação vista como transferência de informações de um pólo detentor de conhecimentos para um pólo receptor e desautorizado. Abordagem campanhista, focada em investimentos sazonais ou emergenciais. Desde a última década do séc. XX, alguns sinais foram evidenciando a presença de novidades nesse cenário, principalmente o notório aumento e diversificação das vozes que publicamente falam de comunicação no campo da saúde, seja demandando políticas, exigindo participação, seja desenvolvendo trabalhos de pesquisa e produzindo conhecimentos específicos. No âmbito acadêmico, observa-se nos cursos da área da saúde um incremento da relação entre comunicação e saúde como tema de monografias, dissertações e teses (marcadamente na saúde coletiva) e de disciplinas específicas, assim como surgimento de cursos de pós-graduação lato sensu especializados no assunto. No contraponto, um crescimento acelerado do tema saúde nos cursos da área de comunicação, da graduação ao doutorado. Como outra dimensão a instigar a curiosidade científica, temos a progressiva e rápida midiatização da sociedade, com reverberações nas instituições e movimentos de saúde.